“Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. ''
Freire, 1996
Assim como outros bairros populares, o Baraúnas carrega o estigma de ser um bairro violento, como se a criminalidade escolhesse um pouso. Incomodados com essa situação um grupo de jovens da referida comunidade organizou por um longo período um série de debates, discussões, pesquisas que se desdobraram em ações no bairro.
Essas ações delinearam-se sempre com um cunho social e discussão de projetos sociais viáveis para a comunidade. Dentre essas atividades podemos destacar o Projeto Vinde Vede que por algum tempo discutiu com moradores da comunidade em seus encontros sobre a questão do estigma depreciativo do Bairro através do questionamento: De Baraúnas pode sair alguma coisa Boa? Vinde e Vede com essa questão, buscou-se, ao longo da caminhada de debates, resgatar os aspectos positivos da comunidade, valorizando sempre a cultura local.
Uma das ações significativas desse grupo de estudantes foi à realização de três edições de uma Feira Sócio cultural durante os anos de 2002, 2003 e 2004. Esse foi um evento que consistia em uma série de atividades culturais e sociais com tema direcionados a atual realidade da sociedade com o intuito de valorizar local reafirmando a auto-estima dos moradores através de atividades sócio-informativas e levantamento histórico do bairro.
Durante esse três anos de Feira sócio-cultural foram realizados stand´s expositivos e informativos, oficina de reciclagem, debates sobre a realidade da juventude, a presença a de especialista da área de saúde, manifestações culturais com a escola de samba do bairro e bandas locais, demonstrações de esportistas locais entre outros acontecimentos intimamente relacionado com nosso bairro.
Outra importante atividade realizada foi à implantação de oficinas pedagógicas direcionadas para estudantes secundaristas da comunidade que almejavam participar do processo seletivo para ingresso no ensino superior, no ano de 2009. Essas oficinas, inicialmente, foram de leitura, atualidades e produção textual ministradas por estudantes universitários oriundos do próprio bairro Baraúnas.
O estímulo surgiu da reflexão dos estudantes do ensino superior do bairro, que sabem que cursar uma universidade, principalmente pública, é praticamente um privilégio em nosso país haja visto que muitos não conseguem, sequer, concluírem a escola básica por diversos fatores relacionados com ausência de políticas públicas na área da educação. Essa situação agrava-se ainda mais para os jovens que estão inseridas em comunidades carentes, na quais há um déficit de equipamentos sociais que ajudem nesse processo.
Por conta dessa situação, fazem-se necessárias iniciativas não somente estatais para mudança nesse panorama, mas também da própria comunidade. Com essa perspectiva estudantes universitários se organizaram, no intuito de colaborar para isso através do caminho mais difícil, porém o mais eficaz: a educação.
Dentro dessa perspectiva, as oficinas pedagógicas no ano de 2010, consegue a adesão voluntária de mais estudantes universitários do Baraúnas e, até mesmo, de outros para proporcionar aos estudantes um espaço como todas as disciplinas que constam no vestibular.
Outro aspecto que deve ser destacado é cunho social dessa atitude, pois é oriunda de jovens da comunidade que desejam promover mais um espaço de discussão e mostrar e destacar ações positivas da comunidade, pois já sabemos que não repercutirá na mídia em geral que um grupo de jovens/adultos se reúnem de maneira espontânea para estudar e/ou discutir e trocar experiências, porque para os meios de comunicação, em geral, interessa destacar os aspectos negativos.
Além disso, o cursinho pré-vestibular que surgiu no bairro não tem somente a intenção de trabalhar conteúdos e temáticas destinadas ao vestibular, mas também promover com os participantes um espaço de debate e discussão sobre assuntos de cunho histórico-social pertinente a vida do cidadão em geral.
Conseguimos, durante o ano de 2010, dar aulas durante os dois semestre de segunda a sexta, mesmo sem uma sede própria, sem recursos financeiros e muito menos o apoio de instituições particulares ou subsídios do poder público.
Nossas atividades são acompanhadas e coordenadas por graduados ou graduando, e até especialistas das seguintes áreas em História, Geografia, Letras, Física e Biologia pela UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana; pela UNEB – Universidade do Estado da Bahia; UNOPAR – Universidade do Paraná; Direito pela UESC – Universidade Estadual Santa Cruz.
As áreas contempladas para aulas das oficinas foram: Português, Matemática, Biologia, Química, Física, História, Geografia, CCN – Cidadania e Consciência Negra, Noções de Direito, Cinema, Produção Textual.
É importante destacar que dos participantes do nosso cursinho comunitário que dois tiveram êxito no último vestibular das UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana – 2011.1. São eles: Elayne Cristina dos Santos Almeida, no curso de Letras com Espanhol e Francisco de Assis Macena Siqueira Silva, no curso de Educação Física. Todo grupo fica muito lisonjeada com essas conquistas por conta de nossas limitações de estrutura, mas que possui uma equipe muito bem capacitada e comprometida, que merece ser parabenizada também:
Professores: Aécio Moreira (Redação), Doriana Pinheiro(Matemática), Edmundo (História), Guilherme Venâncio(Geografia e CCN), Hosana Amorim(Biologia), Joelson Santhiago (Língua Portuguesa), Robson Mattos(Física), Willian Diego(Química).
Apoios pedagógicos: Ana Flávia Silva Pereira, Evanice Venâncio, Geovanny Ferreira, Taliane Ferreira.
Por Joelson Santiago
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